Senhoras e Senhores,
Excelências,
Estou grato por dispor desta oportunidade para tecer algumas palavras em torno do tema que nos é proposto, nesta Conferência Parlamentar sobre o Diálogo Inter-Religioso: “Trabalhando em conjunto para o nosso futuro comum”.
Agradeço o Reino e o Parlamento do Marrocos e, de modo particular, as entidades de Marraquexe pela hospitalidade proporcionada desde à nossa chegada.
Excelências,
A instabilidade sócio-política vem se intensificando nos últimos anos com maior visibilidade dos conflitos armados e actos de violência, especialmente contra civis, inspirados em discursos de ideologia religiosa que levam a perseguições e extermínios injustificados de pessoas por avessos às premissas de direitos humanos.
Apesar dos múltiplos esforços visando um diálogo construtivo entre as nações, aumenta o ruído ensurdecedor de guerras e conflitos, ao mesmo tempo que continua a predominar um modelo económico mais baseado no individualismo/egoísmo do que na partilha solidária.
Em várias partes do mundo, testemunham-se acções terroristas, cujos perpetradores usam a capa religiosa para se camuflarem.
A República de Moçambique é um Estado Laico. Esta laicidade assenta na separação entre o Estado e as confissões religiosas. Todavia, e assente nos direitos fundamentais consagrados na nossa Constituição, o Estado reconhece e valoriza as actividades das confissões religiosas, visando promover um clima de entendimento, tolerância, paz e o reforço da unidade nacional, o bem-estar espiritual e material dos cidadãos, bem como o desenvolvimento económico e social.
Por outras palavras, a religião no meu país constitui uma grande fonte de manutenção da paz e harmonia. O diálogo Inter-Religioso é de suma relevância, pois serve para responder às exigências e aos desafios da edificação de uma Paz duradoura no País. O diálogo Inter-Religioso em Moçambique, prevê que as diferentes religiões evitem a busca da supremacia, sabido que perante a lei são iguais.
Moçambique tem promovido vários debates, encontros, simpósios entre os líderes e representantes de todas as Confissões Religiosas, cuja essência é o diálogo Inter-Religioso com vista a reafirmar a posição do País como palco de convívio e tolerância entre as religiões, o que pressupõe a existência e o fortalecimento do diálogo Inter-Religioso.
O Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos tem registado cerca de 1404 Confissões Religiosas, de 334 Associações Religiosas e 05 Instituições de Ensino Religioso. Essas Instituições Religiosas estabelecem uma estreita e franca comunicação com o Governo, que sempre que acha necessário, solicita os líderes dessas instituições através de vários canais existentes para a reflexão conjunta de situações que ocorrem.
O diálogo inter-religioso está intrinsecamente relacionado à cultura da paz, à prevenção e à resolução não violenta dos conflitos. Ao mesmo tempo, estabelece a liberdade de consciência e os princípios da igualdade, da separação e da não confessionalidade do Estado.
Nesta matéria, os chefes espirituais têm um dever particular, e poderíamos dizer uma competência especial, que consiste em pôr em primeiro plano as questões mais profundas da consciência humana, com enfoque para o despertar da humanidade à reflexão inerente ao espaço de profissão da fé de forma pacífica, tolerando as diferenças.
Excelências,
Permitam-me que, respeitosa e carinhosamente, vos convide a considerar o diálogo não somente como um meio para reforçar a compreensão mútua, mas também, como um modo para servir de maneira ampla a sociedade.
O faço pensando no ensinamento de São João Paulo II, Sumo Pontífice de feliz memória que cito:
“Estamos todos de acordo ao considerar que a religião deve estar centrada de modo autêntico em Deus e que os nossos primeiros deveres religiosos são a adoração, o louvor e a acção de graças, tal como fazem referência parte de instrumentos de algumas religiões a saber: O sura inicial do Alcorão afirma: “Louvor a Deus, Senhor do mundo” (Alcorão 1, 1). Nos cânticos inspirados da Bíblia ouvimos a chamada universal: “Todo o que respira louve a Javé! Aleluia!” (Sl 150, 6). No Evangelho lemos que, quando Jesus nasceu, os anjos cantaram: “Glória a Deus nas alturas” (Lc 2, 14). Agora que muitos são tentados a administrar a própria vida sem referência alguma a Deus, a chamada a reconhecer o Criador do universo e o Senhor da história é essencial para garantir o bem-estar dos indivíduos e o correcto desenvolvimento da sociedade”.
Se a devoção a Deus for autêntica, implica necessariamente a atenção para com os outros seres humanos, como membros da única família humana e amados filhos de Deus. Temos deveres recíprocos que, como crentes, não podemos ignorar, transformando a sociedade, em um lugar em que pomos de lado todas as considerações de riqueza e poder e valorizamos as pessoas por aquilo que são e aquilo que podem dar; onde Judeu e Cristão, Muçulmano e hindu, Budista e Sikh se podem encontrar, ligados pelo que têm em comum e enriquecidos pelas suas diferenças, tal como referiu Rabino Jonathan Sacks; lugar onde nos reunimos em conversa respeitadora sobre o tipo de sociedade que desejamos criar para os nossos netos, ainda por nascer.
Excelências,
A terminar, encorajamos as lideranças dos nossos governos para prosseguirem com as suas acções pacifistas promovendo o diálogo inter-religioso, para o tão sonhado mundo sem guerras e partilhamos a nossa forte convicção de que a União Interparlamentar pode se tornar numa plataforma mundial de promoção do diálogo inter-religioso através dos parlamentos membros seus.
Muito obrigado pela vossa atenção!